Espécie de contra-espelho retaliante de Gibraltar, integrando o estranho dispositivo estratégico de uma dupla vigilância estrangeira enclavinhada de pé posto a um lado e outro do estreito gargalo de Hércules - como se um deus-geógrafo louco a soldo dos homens tivesse deixado ali ficar um puzzle trocado, à espera -, Ceuta é também o entreposto daqueles que ficam pendurados no hiato territorial entre dois continentes, e entre duas vidas: a sua... e a sua.
Um quarto povo, que não é nem marroquino nem espanhol nem britânico, vem chegando do sul. E fica. Mas em lugar nenhum, apenas no exacto tempo daquela fracção de espaço atravessada por essa viagem que nela fica coagulada como tempo de uma fotografia. A fotografia, que tem por si todo o tempo do mundo, precisa, pelo contrário, de muito pouco espaço. Partilha com os mortos e com as prisões essa qualidade existencial.
É a essa condição fotográfica dos migrantes embalsamados que o cinema da dupla de realizadores Millet/Rechi percorre: uma câmara que se move através da imobilidade, tal como a viagem dos mortos-vivos (tão antigos como o próprio cinema) se continua a mover como uma ponte intransponível por cima do mare nostrum.
NO PAÍS DO CINEMA
O CINEMA-FORA-DOS LEÕES / Universidade de Évora e OS FILHOS DE LUMIÈRE,
em parceria com o Córtex Frontal – Residências Artísticas, apresentam
Sexta-feira, 30 de Junho, 21h30
AUDITÓRIO SOROR MARIANA
Universidade de Évora
CEUTA, DEUCE PRISON / 2013 ( 90 Min.), Jonathan Millet e Loïc Rechi (1) – com legendas em inglês
Rechi
Milet
