cFl cinema fora dos leões
asm- auditorio soror mariana (evora)
29/7
The last of Mohikans by M. Mann
asm- auditorio soror mariana (evora)
29/7
The last of Mohikans by M. Mann
THE LAST OF THE MOHICANS / 1992, Michael Mann (112 min.)
Resumo da sessão:
Ainda não tínhamos visto índios tão humanos como os de ontem. Foi arrancado o véu romântico e os índios foram expostos tal como os colonos brancos: movidos pela ganância e sentido de poder, guerreiros estrategas sedentos de vingança e sangue.
O filme evidencia o papel dos nativos e europeus instalados no território americano que foram integrados em milícias militares tanto pelos ingleses como pelos franceses. Arriscamos dizer que é aí, nessa confusão/complexidade racial que o filme existe e encontra o seu espaço. Acompanha três índios: Nathaniel, um índio mohicano adoptado (Daniel Day-Lewis), Chingachgook, o pai adoptivo (Russell Means) e Uncas, o meio-irmão índio (Eric Schweig), caçadores que deslizam rasteiramente (quase que voam) entre os trilhos de guerra sem jurar fidelidade a ninguém. Falam inglês fluentemente, conhecem os códigos de guerra indios, têm o respeito dos colonos europeus e compreendem a complexidade racial e cultural americana de mistura e convivência de índios com europeus. Vivem no seu limbo até que Nathaniel e Uncas se apaixonam pelas belas filhas do Coronel Munro, instalado no Fort William Henry, na província de Nova Iorque. Esta história de amor é significado e significante da relação entre nativos e invasores (mais antigos e mais recentes) e o desejo de todos eles em conquistar o solo americano à força.
Há algo que não poderemos esquecer. Magua (Wes Studi, novamente) também é adoptado. Foi acolhido pelos Mohawks (inimigos dos Mohicans) mas o seu coração nunca deixou de ser Uton, para onde regressou no final com os seus troféus de guerra. Vendo bem, os europeus locais que formaram as milícias também. Estavam deslocados, foragidos do sul para a fronteira do norte para não terem de prestar fidelidade a ninguém, voltando a fugir novamente, desta vez para junto das suas famílias, após serem traídos pelos pelos ingleses. Será que naquela terra todas os povos são estrangeiros? Que muitos dos próprios índios, nas suas constantes batalhas e movimentações nómadas, são também deslocados? Ficamos com a ideia de estar perante um filme onde a força/desejo do coração/sangue não pode ser domesticada, pois, mais tarde ou mais cedo, irá quebrar as amarras que o prende. Como diz Cora Munro (a bela Madeleine Stowe): não posso seguir uma razão que contraria a vontade do meu coração, rendido a um homem meio índio meio europeu, e ligado por sangue ao coração que Magua (vontade do seu coração vingativo), arranca do corpo de Munro e ergue vitorioso. Corações.
Por fim, é surpreendente verificar que The Last of the Mohicans (1992) continua os temas e ideias dos filmes apresentados anteriormente no ciclo Um Olhar a Oriente/ A Oriente do Olhar.
É, tal como Taza: Son of Cochise (Douglas Sirk, 1954), Geronimo (Walter Hill, 1993) e Apache (Robert Aldrich, 1954), mais um retrato dos últimos índios (the last breath). O título e, sobretudo, o desfecho monumental do filme encarregam-se de nos lembrar disso mesmo. Chingachgook e Nathaniel despedem-se de Uncas, lembrando que já só falta um para que todos os Mohicanos estejam reunidos no céu. Aqui Mann não evita o olhar complacente para uma cultura dizimada por guerras que não lhes pertenciam mas que aproveitaram e majoraram os ódios das próprias tribos índias umas pelas outras.
Southern Comfort (Walter Hill, 1981) existe por inteiro neste filme. A tomada de assalto dos ingleses e franceses (com as consequentes ameaças de traição e julgamentos à mira de uma lei distante das regras dos índios), é em tudo igual semelhante à insolência dos american troopers aos cajuns.
Mas talvez seja em The Shining (Stanley Kubrick, 1980) e, sobretudo, em The Searchers (John Ford, 1956) que o filme encontra o mais interessante paralelo. Se no filme de Ford vimos Scar a raptar a menina no cemitério familiar (sob o olhar horrorizado dos seus antepassados), esse solo sagrado protegeu os heróis de Mann e repôs a ordem histórica de antiguidade desse território, que seria índio muito antes de ter sido reclamado pelos europeus. O solo salvará quem a ele chegou antes? Kubrick diz-nos que pelo menos nunca esquece. A constante invasão dos cemitérios e a memória da terra metaforizam muito bem as revisões históricas que todos estes filmes voluntária ou involuntariamente fazem e o modo como o cinema insiste em lembrar e reavivar o passado violento e mortífero desse solo composto por sucessivas camadas de corpos uns sobre os outros.
Luís Ferro (Centro de História da Arte e Investigação Artística da Universidade de Évora).
José Manuel Martins (Departamento de Filosofia da Universidade de Évora).
Jorge Branquinho (Ministério da Saúde).
Rui Salvador (Universidade de Évora).
Sessões às 21h30
AUDITÓRIO SOROR MARIANA
Cineclube da Universidade de Évora
Rua Diogo Cão, 8 | 7000-872 Évora | Portugal
luisferro.arquitectura@gmail. com
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Apoios: Cineclube da Universidade de Évora | Pátio do Cinema – Núcleo de Cinema da SOIR | Departamento de Filosofia da Universidade de Évora | Centro de História da Arte e Investigação Artística da Universidade de Évora (CHAIA/UÉ) | Fundação Eugénio de Almeida.
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