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quarta-feira, 1 de março de 2017

História permanente do Cinema - Évora






Luchino Visconti 



História permanente do Cinema

O ciclo História permanente do Cinema replica o título da programação da Cinemateca Portuguesa e apresenta em articulação com o programa do 2º semestre da cadeira de Estudos do Cinema e do Audiovisual II, uma série de grandes clássicos. Nesta e noutras disciplinas não existe tempo para o visionamento e concentração num só filme. Esta iniciativa vem colmatar parte dessa lacuna e procura ligar a docência e a investigação com a extensão universitária, constituindo-se como uma actividade de acesso livre. Contemplando géneros e latitudes diversas pretende-se não só visionar, mas também comentar, convidando-se um(a) especialista um(a), ou um(a) apaixonado um(a) por Cinema, a estimular o debate entre todos os presentes. Será assim uma forma de garantir um futuro para estas películas.

Coordenação – José Manuel Martins / Cinema-fora-dos Leões
Programação geral - José Manuel Martins, João Mesquita, Sandra Leandro
Programação 2º semestre 2016-2017 – Sandra Leandro
Organização – Departamento de Artes Visuais e Design e Departamento de Filosofia

Horário e Local das Sessões:

Quintas-feiras, às 21h30   –   Auditório Soror Mariana – Rua Diogo Cão, nº 8

Universidade de Évora


Quinta,    2 de Março,   21h30   –Il Gattopardo  Luchino Visconti – , 1963. 






                               O Leopardo de Visconti apresentado por João  Rabaça (UÉ)

"Falar de «O Leopardo» de Luchino Visconti, coloca-me numa posição de confronto: como apresentar em 10min um dos filmes da minha vida!
Poderei começar precisamente por aqui: pelo confronto. Porque o filme é, ele próprio, uma alegoria do confronto. Da História e da vida.
A acção, como sabemos, decorre entre 1860 e 1861, quando Garibaldi desembarca na Sicília para derrubar a monarquia dos Bourbons de Nápoles. Um ano antes, a intervenção francesa ao lado do reino do Piemonte, forçou a retirada do império austríaco de parte da Itália do Centro e Norte. O filme traduz, assim, o fim de um mundo – a aristocracia rural siciliana (representada pelo príncipe Frabrizio Salina) – e a traição das esperanças do Risorgimento, pois a Itália nova apoiar-se-á na velha nobreza contra os garibaldinos.
O filme baseia-se no romance homónimo de Tomasi de Lampedusa, publicado em 1958 pela Feltrinelli poucos meses após a morte do autor, tendo alcançado um apreciável sucesso.
Visconti, ele próprio descendente de uma antiga família aristocrática de Milão, duque de Mondrone, entusiasma-se com a obra e interpreta-a de um modo magistral. Segue o livro, respeitando as partes essenciais do romance, mas introduzindo passagens em que o tempo real da narrativa é transformado num tempo imaginário. Enquanto na obra de Lampedusa a acção decorre entre 1860 e 1910, sobrevivendo à morte do príncipe, a versão de Visconti está condensada em 2 anos.
O confronto da História é sublinhado ainda por confrontos directos: Tancredi (o sobrinho) e o príncipe, Angelica e Concetta, a velha aristocracia e a burguesia campesina endinheirada (personificada por D. Calogero). Confrontos narrados na linguagem cinematográfica única de Luchino, um homem culto, inteligente, sensível e com uma espessura operática singular.  
O filme é bem mais do que uma boa história transposta para o cinema: baseia-se num livro admirável, mas acrescenta-lhe valor. Não um valor efémero, volátil como os costumes; mas uma essência perene que só alguns conseguem materializar. Por isso, «O Leopardo» é um verdadeiro monumento da 7ª Arte!
Há 3 momentos piramidais no filme e que suportam o seu conteúdo ideológico: o diálogo entre o príncipe e Don Ciccio durante a jornada de caça, a conversa entre Salina e Chevalley, o emissário do reino encarregue de o convidar para senador e o baile no palácio Ponteleone, que ocupa boa parte do filme e traduz toda a sua essência. Fabrizio encara-o como uma despedida do seu tempo, um derradeiro adeus tratado por Visconti de um modo sublime: curva-se perante a morte, respeita-a, mas é como um verdadeiro Príncipe que sai de cena, seguindo por uma viela de Palermo. Como dizia Burt Lancaster, «o príncipe recebe a morte quase com alívio, porque não está à vontade em nenhum dos 2 mundos, em nenhuma das sociedades que conheceu: nem entre a sua classe, que acha fútil e estúpida, nem entre a nova classe dominante que considera vulgar. Apesar de todo o seu amor pelo sobrinho, sabe que este não passa afinal de um arrivista, um bonitão, um chatinho cúpido e ambicioso».
Uma palavra final para Burt Lancarter, um actor razoavelmente injustiçado. Mas, na verdade, não imaginamos o príncipe de Salina representado por outro! Mesmo quando sabemos que, inicialmente, o papel era para ser atribuído a Laurence Olivier. Burt entregou-se ao personagem e conferiu-lhe a carácter majestático que se impunha. Convenceu Luchino, ficaram amigos e, mais tarde, em 1974, participaria em Violência e Paixão, o penúltimo filme de Visconti e, de certo modo, um testemunho da sua própria existência.
Em síntese, O Leopardo pertence por direito próprio à categoria de filmes que nos marcam de um modo indelével. Como as obras deste Ciclo e outras que, por certo se sucederão. Neste filme, os personagens são simultaneamente intérpretes da história e narradores que nos convocam para interpretações da História, ou antes do fim de uma certa era.
Nino Rota cria uma banda sonora ajustada ao filme. Como sempre o fez. Com Fellini, por exemplo. Mas esta já será uma outra história…"

João E. Rabaça, Março 2017










AUDITÓRIO SOROR MARIANA

Universidade de Évora

Rua Diogo Cão, 8 | 7000-872 Évora | Portugal

Apoios: Departamento de Filosofia da Universidade de Évora | Centro de História da Arte e Investigação Artística da Universidade de Évora (CHAIA/UÉ) | Colecção B | Associação Cultural Os Filhos de Lumière | Instituto do Cinema e do Audiovisual | Fundação Eugénio de Almeida | Câmara Municipal de Évora | Direcção Regional de Cultura do Alentejo | Institut Français du Portugal | Embaixada de Espanha em Portugal | Instituto Cervantes de Lisboa | Programa AECID – Cooperación Española.

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