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domingo, 8 de janeiro de 2017

Ernst Lubitsch


CINEMA-FORA-DOS LEÕES, em coordenação com o Departamento de Filosofia e o CHAIA, apresenta

Quinta-feira, 12 de Janeiro, 21h30

AUDITÓRIO SOROR MARIANA

HEAVEN CAN WAIT  \  O CÉU PODE ESPERAR   / 1943, Ernst Lubitsch, 104 min 


O 'Lubitsch touch'  - essa leveza, esse champanhe no trato cinematográfico das pequenas peripécias da comédia da vida que põem entretanto o mundo em movimento -  aplica-se, neste filme, àquilo que Stanley Cavell designou a comédia romântica de 'recasamento', de 'remarriage', enquanto maneira de "angariar a felicidade".
"The pursuit of happiness"  - persegui-la e prossegui-la -  é, com efeito, um direito e finalidade ideal expressamente consagrados na Constituição americana; e, segundo Cavell, o cinema romântico de Hollywood capitaliza sobre esse implícito do inconsciente colectivo americano, dando ao American dream a configuração da felicidade conjugal: do lar americano como imagem cinematográfica da reconciliação e do apogeu da vida do cidadão. Para isso, é preciso que o casamento seja, não apenas firmado, mas reconfirmado: donde, a figura do 're-marriage'. Ora, nada melhor do que esse 'turn', esse giro cheio de imponderáveis, do 'recasar', para Lubitsch encontrar campo para praticar a subtileza do seu 'toque'.

E que recasamento, que este é! Não 'made in Heaven'  - como os vulgares casamentos -,  mas... tratado com finura e elevação naquele lugar elegantemente ornado de discretas labaredas a que preside o personagem irresistivelmente charmoso que neste filme dá pelo nome de 'Sua Excelência'. Trata-se de saber se o Diabo, grande psicopompo, aceita a candidatura de Van Cleve (Don Ameche, o inesquecível  actor da mansidão nostálgica) para cumprir ali a eternidade. Van Cleve, o mulherengo inveterado (virtuosismo de Lubitsch a brincar com o fogo à tangente da moral matrimonial americana e dos rígidos tabus puritanos de Hollywood...). 
E toda a entrevista com o senhor do sumptuoso palácio de baixo se transforma no puro júbilo cinematográfico do flashback: toda a vida da alta burguesia americana é repassada em revista, ao fio do relato / exame de consciência confessional do personagem de Don Ameche, casado, infiel e viúvo; e trata-se de saber se é consentida pelos poderes transcendentes essa passagem mágica do casamento para o recasamento, do pecado para a salvação. No final, um 'diabo justo' e infinitamente compassivo...
bom, não conto a história - as suas imagens deliciosas, o seu desfecho -,  apenas o seu enredo. 

Poderíamos, em sobreinterpretação, hoje, reformular assim os termos da equação: serão ainda passíveis de recuperação final, olhando retrospectivamente uma história 'encantada', os pecadilhos (?) da nação americana no curso da sua vida através do mundo, o rol 'compulsivo' das pequenas traições e infidelidades ao compromisso 'conjugal' da sua felicidade consigo mesma?...

Tão mais incompreensível, diante dessa 'beleza de bondade' de que é iluminado o rosto celestial de Gene Tierney  - a Laura de Laura (Otto Preminger, 1944), a Mrs Muir  de Mrs Muir e o fantasma (J.L. Mankiewicz, 1947) -  um dos mais fascinantes e hipnóticos rostos do star system de Hollywood.
Sim, o céu pode esperar...

 



O filme desta noite insere-se na rubrica 'História Permanente do Cinema', cuja orgânica já anunciámos em divulgações anteriores, e cujo calendário ficou assim rearranjado, para acomodar o primeiro filme previsto, O pagador de promessas, que passou de 5 para 27 de Janeiro (excepcionalmente, uma 6ª feira).
Fica adiada para Fevereiro a sessão de Double Bill e o respectivo miniciclo, organizado e apresentado pelo nosso doutorando de Artes Visuais, Moh'd Musa:

12 JAN -  O céu pode esperar – Ernst Lubitsch (1943)



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