Quinta, 3o de Janeiro, 21h30
cinema-fora- dos leões (sala soror mariana)
WOMAN IN THE DUNES, Hiroshi Teshigahara, 1964, 123’.
Sinopse
Este filme constitui uma das principais referências na obra de Andrei Tarkovsky.
Trata-se da história do aprisionamento de um homem numa cabana localizada na ravina de uma duna de areia.
A história assemelha-se ao mito de Sísifo, que segundo a mitologia grega, foi condenado a levar às costas um rochedo até ao topo de uma montanha. No entanto sempre que se aproxima do cume, a pedra caí até ao sopé da montanha. Deste modo Sisífo tem de repetir a mesma epopeia outra e outra e outra vez.
Trata-se da história do aprisionamento de um homem numa cabana localizada na ravina de uma duna de areia.
A história assemelha-se ao mito de Sísifo, que segundo a mitologia grega, foi condenado a levar às costas um rochedo até ao topo de uma montanha. No entanto sempre que se aproxima do cume, a pedra caí até ao sopé da montanha. Deste modo Sisífo tem de repetir a mesma epopeia outra e outra e outra vez.
IMDB
Trailer
Agenda Cultural
Com o apoio de: Cineclube da Universidade de Évora | Pátio do Cinema – Núcleo de Cinema da SOIR
Departamento de Arquitectura da Universidade de Évora
Hiroshi Teshigahara (勅使河原 宏 Teshigahara Hiroshi January 28, 1927 – April 14, 2001) was an avant-garde Japanese filmmaker. He received an Academy Award nomination for Best Director for his 1964 film
The Woman in the Dunes.
"...... o peso: fiquei com a duna toda em cima de mim, esmagando-me como chumbo durante toda a noite. Não havia ninguém a cavar no meu quintal, durante essas horas, e por isso dou graças aos céus. Kafka tem contos assim, como O Covil, em que uma espécie de bicharoco escava sem cessar, numa fuga desesperada de um perigo incessantemente aproximando-se: para quê Aliens em tubinhos estúpidos a ameaçar os astronautas, quando a areia se desprende assim, como o cosmos de Pascal, que nos esmaga como a um insecto, 'mas nós temos a consciência disso'? No filme, os insectos capturados pelo entomologista capturado oferecem um paralelo cruel e um comentário sardónico ao captus captor, mas só até certo ponto, chamemos-lhe o ponto pascaliano: até ele, que já fugia da grande cidade e partilhava da proximidade com os bicharocos solitários e do fascínio pela areia (ainda não conhecia as suas propriedades de ampulheta ontológica), até ele descobrir o avesso desse peso, e o avesso dess
- a secura: é quando ele se começa a parecer mais com os insectos, adaptados à vida dunar. Com efeito, o homem pré-pascaliano está mais desmunido ainda do que 'os brutos' diante do desabamento do peso incalculável do cosmos: estes, que a câmara virtuose de Teshigahara não se cansa de mostrar em amplificações de documentário naturalista, mas que no filme funcionam como estilo uniforme da imagem seca, do granulado infinito a preto e branco de todas as coisas e de todos os seres, transformados em areia e secando-nos por dentro tanto quanto por fora nos esmagava (durante as premeditadas duas horas e meia do filme, que nos fez atravessar a Prova Iniciática da Areia em não menos tempo contado do que esse, para que todo o nosso corpo e todo o nosso ser se imbuam dessa areia penetrante universal que areniza todos os lugares, todas as horas e todos os seres até à medula, e que areniza toda a imagem deste filme pesado como ele próprio uma duna de cujo poço não escapamos, mesmo depois de termos saído do cinema e de 'termos ido ver o mar', como o protagonista que regressa, convertido, a um novo fascínio inexplicável por uma outra, insuspeitada, possibilidade de calibração do viver e do seu sentido), estes insectos, dizia, que o entomologista espreita e apanha, são mostrados pelo realizador numa relação com a areia, inversa da da 'aldeia das dunas' (a simples designação de 'aldeia dunar', e o seu carácter fisicamente impossível, conferindo uma estranheza inóspita que faz parte dos harmónicos de inexplicável que ficam a vibrar em nós durante e depois deste filme único, por longo tempo...). Com efeito, os bichos enterram-se da superfície para a primeira camada da areia: os humanos, escavam-na desde o fundo enterrado das suas entranhas, de baixo para cima. (Donde, que o paralelo com sísifo só muito em parte funcione: não só semanticamente como, por assim, dizer, sintacticamente: a sintaxe de Sísifo é a de uma articulação que parte do solo para um topo: na 'Mulher nas Dunas', a articulação parte de um escavador dos infernos de Dante que quer sair de lá até ao solo, acima. A montanha é uma montanha de profundidade, não uma montanha de elevação.Mas dizia que os insectos são mais sábios com a areia do que os homens pré-pascalianos: mas não mais do que os homens pascalianos. Quando o homem toma consciência 'da areia que o esmaga', é também quando toma consciência de uma alternativa quer à sua relação no imo desse esmagamento que o soterra, quer à relação do insecto com a areia em que pelicularmente se enterra: essa alternativa não é só uma alternativa às duas posições a tomar a respeito da areia e da duna, posição de superfície ou posição de profundidade: é uma alternativa à própria areia e à sua secura: a descoberta de que a sucção da duna provoca condensação de água, ou seja, de que é possível superar o peso da duna e a secura da areia através da transparência líquida da água de espelhada superfície. Até aí, a areia, ora era essa secura esmagadora, como o homem dizia com o seu bom-senso, ora aquela areia húmida que apodrece as coisas, como a mulher dizia, sem saber dialisar o seco e o húmido como os pré-socráticos. Agora, a duna apresenta uma velocidade de produção de água, que o homem apresenta em tabelas e traduz em fórmulas matemáticas de progressão calculada: não a consciência pascaliana de que o peso do mundo, como uma ampulheta cega, nos esmaga, mas uma nova consciência de não-esmagamento. A fascinação pela areia dobra-se de uma outra fascinação, e a escada deixada pendurada para a evasão é desdenhada. Um buraco assim, e um filme assim, são um vício asfixiante: morar no sítio onde se trata de escavar a sua casa e de escavar a sua vida directamente na substância ininterrupta do mundo...."
JMMartins
puro cinema hipónico arigado!!! luis ferro
ResponderEliminar